JESUS FOI CRUCIFICADO NA SEXTA FEIRA OU EM OUTRO DIA?
Cristo ressuscitou no Domingo (Mt 28:1), mas ele afirmara que "passaria trĂȘs dias e trĂȘs noites no coração da terra". Se Cristo foi crucificado na Sexta-feira, como poderia ele passar trĂȘs dias e trĂȘs noites na terra e ressurgir no Domingo, apenas dois dias depois?
A interpretação tradicional que a Igreja tem perpetuado por séculos é que Jesus teria sido crucificado na Sexta.
Devemos acima de tudo lembrar que o dia para os judeus começa ao pĂŽr-do-sol (18:00) e termina ao outro. A noite vai das 18:00 atĂ© o levantar do sol, o dia vai do levantar do sol atĂ© o pĂŽr-do-sol, que começa outro. E o perĂodo de 24 horas, ou seja, 18:00 Ă s 18:00 tambĂ©m Ă© chamado de dia. Na verdade os “3 dias e 3 noites” equivalem a 3 dias, e nĂŁo precisam ser contados segundo nossa forma cultural, que teria que dar literais 3 dias literais e 3 noites literais. Assim, por exemplo, ao amanhecer atĂ© 18 horas (dia) seria de modo completo que valeria a expressĂŁo “um dia e uma noite”, ou seja, nĂŁo seria preciso 18:0 Ă s 18:00 (dia e noite completa) ou parte da noite e parte do dia para a expressĂŁo “um dia e uma noite” poder ser usada. Isso que explica o Rabi Eleazar Bar Azaria (100 d.C.): “um dia e uma noite fazem um ‘yom’ (24 horas), mas um ‘yom’ começado, vale um ‘yom’ inteiro”. O Talmude de JerusalĂ©m, tambĂ©m concorda: “Temos um ensino: um dia e uma noite sĂŁo um, O nah e a parte de um O nah Ă© como o total dele".
No caso do dito de Jesus Ă© um modo cultural de expressĂŁo; entĂŁo, “3 dias e 3 noites” poderiam valer para parte de Sexta, SĂĄbado completo e parte do Domingo. Logo, os cĂĄlculos literalistas de 72 horas nĂŁo sĂŁo necessĂĄrios e nĂŁo servem de prova para nada.
Os Pais da Igreja, que viveram bem prĂłximos ao tempo da morte de Cristo entendiam dessa forma. InĂĄcio (35-110), Irineu (130-202), JoĂŁo CrisĂłstomo (349-407), AtanĂĄsio (295-373), Cirilo de JerusalĂ©m (313-386) Agostinho (354-430), SulpĂcio Severo (363-425), JerĂŽnimo (347-420). Todos eles se referiam ao versĂculo de Mateus 12.40 sem nenhum problema, pois tinham conhecimento sobre a cultura judaica nĂŁo apenas nessa questĂŁo da contagem de dias, meses e anos, mas em outras questĂ”es tambĂ©m. Nenhum deles pĂŽs em dĂșvida o fato de que Cristo morreu realmente na Sexta-feira.
Santo Agostinho (354-430) då explicaçÔes sobre o assunto:
“A quinta regra de Tichonius se aplica de duas maneiras: ou a figura de linguagem chamada sinĂ©doque ou aos nĂșmeros legĂtimos. A figura sinĂ©doque ou coloca a parte pelo todo, ou o total a parte. Como, por exemplo, em referĂȘncia ao momento em que, na presença de apenas trĂȘs dos seus discĂpulos, nosso Senhor foi transfigurado no monte, assim que o seu rosto resplandeceu como o sol, e seu vestido era branco como a neve, um evangelista diz que este evento ocorreu ‘depois de oito dias’ (Lucas 9.28), enquanto os outros dizem que ocorreu ‘depois de seis dias’.
Agora, ambas as afirmaçÔes sobre o nĂșmero de dias nĂŁo pode ser verdade, a menos que suponhamos que o escritor que diz que ’’depois de oito dias “, contou a Ășltima a parte do dia em que Cristo pronunciou a previsĂŁo e a primeira parte do dia em que ele mostrou a sua realização em dois dias inteiros, enquanto os escritores que dizem que ’’apĂłs seis dias", contam apenas os dias inteiros ininterruptos entre os dois. Esta figura de linguagem, o que coloca a parte pelo todo, explica tambĂ©m a grande questĂŁo sobre a ressurreição de Cristo. Por menos que a Ășltima parte do dia em que Ele sofreu nĂłs a juntamos a noite anterior, e contamos como um dia inteiro, e Ă Ășltima parte da noite em que ele surgiu nĂłs unimos ao dia do Senhor, que estava apenas começando, e contamos tambĂ©m um dia inteiro, nĂŁo podemos fazer os trĂȘs dias e trĂȘs noites, durante a qual ele predisse que ele seria, no coração da terra“.
Norman Geisler também comenta:
"A maioria dos eruditos bĂblicos acredita que Jesus foi crucificado na Sexta-feira. Consideram que a expressĂŁo "trĂȘs dias e trĂȘs noites" Ă© uma figura de linguagem hebraica que se referia a uma parte desse perĂodo. Em defesa de sua posição, eles apresentam o seguinte:
Primeiro, a expressĂŁo "trĂȘs dias e trĂȘs noites" nĂŁo significa necessariamente trĂȘs perĂodos completos de 24 horas. A referĂȘncia do salmista ao meditar "de dia e de noite" (SI 1:2) na Palavra de Deus nĂŁo significa ter de ler a BĂblia durante todo o dia e toda a noite.
Segundo, estĂĄ claro no livro de Ester que a expressĂŁo "trĂȘs dias e trĂȘs noites" nĂŁo tem o sentido de 72 horas, pois embora eles tenham jejuado por trĂȘs dias e noites , que foi o tempo desde que começaram com o jejum atĂ© o momento em que Ester se apresentou perante o rei, a passagem afirma que Ester apareceu diante do rei "ao terceiro dia". Se eles começaram o jejum na sexta-feira, entĂŁo o terceiro dia seria o domingo. Portanto, "trĂȘs dias e trĂȘs noites" tem de se referir a uma parte do perĂodo de trĂȘs dias e trĂȘs noites.
Terceiro, Jesus empregou a expressĂŁo "no terceiro dia" para descrever o tempo da sua ressurreição, depois da crucificação (Mt 16:21; 17:23; 20:19; cf. 26:61). "No terceiro dia", porĂ©m, nĂŁo quer dizer "apĂłs trĂȘs dias", que exige o total de 72 horas, mas pode ser entendida como referindo-se a um nĂșmero de horas dentro do perĂodo de trĂȘs dias e noites. Quarto, essa posição encaixa-se melhor com a ordem cronolĂłgica dos eventos tal como registrada em Marcos (cf. 14:1), bem como com o fato de ter Jesus morrido no dia da PĂĄscoa (Sexta- feira), para cumprir com as condiçÔes de ser o nosso Cordeiro pascal (1 Co 5:7 cf. Lv 23:5-15).
Ou seja, nĂŁo resta a menor dĂșvida, para o estudante sĂ©rio e sincero da Palavra de Deus, que o nosso Senhor morreu mesmo no dia que hoje chamamos de ’’Sexta-feira", permaneceu todo o SĂĄbado na sepultura, e ressuscitou nas primeiras horas do dia que hoje chamamos de “Domingo”
ReferĂȘncias:
(1) Mishnah,
Tractate, “J. Shabbath”, CapĂtulo IX, Parte 3
(2) MARTINS, Jaziel Guerreiro. Como entender os textos mais polĂȘmicos da BĂblia - Evangelhos SinĂłticos / Jaziel Guerreiro Martins. Curitiba: A.D. Santos Editora, 2011.
(3) A Doutrina CristĂŁ - Livro III, capĂtulos 35,50
(4) Manual popular de dĂșvidas, enigmas e “contradiçÔes” da BĂblia / Norman Geisler, Thomas Howe; traduzido por Milton Azevedo Andrade. — SĂŁo Paulo: Mundo CristĂŁo, 1999
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